Cinzas do Vulcão Tonga chegam à Paraíba e estão colorindo o nascer e pôr do Sol

Se você notou o amanhecer e o anoitecer bem mais bonitos e avermelhados nos últimos dias na Paraíba, saiba que isso está sendo provocado pelas cinzas do Vulcão Hunga-Tonga Hunga-Ha’apai, que entrou em erupção do outro lado do mundo há 20 dias.

A última erupção do vulcão submerso Hunga-Tonga foi verdadeiramente assustadora e devastadora. A explosão principal lançou bilhões de metros cúbicos de cinzas na estratosfera, a mais de 30 km de altitude, e provocou tsunamis que varreram as costas de ilhas próximas, causando prejuízos incalculáveis. 

Cinzas do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha'apai foi lançada a mais de 30 km de altitude - Imagem: Tonga Geological Services

Cinzas do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha’apai foi lançada a mais de 30 km de altitude – Imagem: Tonga Geological Services

A explosão do Hunga-Tonga foi tão intensa que foi escutada a mais de 500 km de distância. Mas o fato de estarmos a quase 15 mil km de Tonga não nos livra totalmente dos efeitos de uma erupção como essa. A onda de choque gerada pela erupção deu várias voltas no mundo e foi percebida por estações meteorológicas em todo planeta, inclusive aqui, na Paraíba. E também foi registrada a partir do espaço, em imagens de satélite.

Onda de choque da erupção de Hunga Tonga capturada pelo GOES-17 (GOES-West) - Créditos: Tim Schmit, NOAA/NESDIS/ASPB

Onda de choque da erupção de Hunga Tonga capturada pelo GOES-17 (GOES-West) – Créditos: Tim Schmit, NOAA/NESDIS/ASPB

Mas só depois de vários dias, começamos a enxergar um outro efeito daquela erupção: as cinzas do Vulcão Hunga-Tonga, chegaram na Paraíba e. embora em nuvens bem mais dispersas na atmosfera, elas podem ser percebidas pela coloração do céu no início e no fim das noites. 

As cinzas vulcânicas tem uma alta concentração de Carbono e Enxofre, que combinados com outros gases da atmosfera, formam moléculas que refletem facilmente a componente vermelha da luz solar. 

Por isso, o nascer e o pôr do Sol começaram a ficar mais bonitos e avermelhados, e produzindo imagens fantásticas. Para aqueles que gostam de contemplar esses momentos do dia, está sendo um verdadeiro presente dos céus. Confira abaixo alguma das imagens feitas na Paraíba:

Veja também o vídeo divulgado pelo Clima ao Vivo com timelapses do nascer do Sol avermelhado pela Paraíba:

 

Cinzas viajaram pela estratosfera

Mas como as cinzas de um vulcão do outro lado do planeta poderiam ter chegado aqui na Paraíba?

O principal motivo é que a erupção do Hunga-Tonga lançou as cinzas na estratosfera, há mais de 30 km de altitude. Lá elas encontram fortes ventos que podem levá-las para bem longe e, como estão acima das nuvens que formam as chuvas, permanecem em suspensão por mais tempo. Na imagem abaixo, essas cinzas foram registradas pelo satélite meteorológico Himawari-8 enquanto atravessavam o Oceano Índico a caminho da África.

Pluma de cinzas do Vulcão Hunga-Tonga a caminho da África registrada pelo satélite Himawari-8 - Fonte: weatherzone.com.au

Pluma de cinzas do Vulcão Hunga-Tonga a caminho da África registrada pelo satélite Himawari-8 – Fonte: weatherzone.com.au

A 30 km de altitude, com ventos a até 100 km/h e sem nenhuma barreira natural, os ventos deram a volta ao mundo e, em menos de duas semanas, já vinham sendo percebidas no Brasil. Inicialmente, seus efeitos foram percebidos na região Sudeste do país, mas com o tempo, as cinzas se dispersaram e também puderam ser observadas por aqui, na Paraíba, e em todo o Nordeste.

Ventos na estratosfera trouxeram as cinzas do Vulcão Hunga Tonga para o Brasil através da África - Reprodução: earth.nullschool.net

Ventos na estratosfera trouxeram as cinzas do Vulcão Hunga Tonga para o Brasil através da África – Reprodução: earth.nullschool.net

E como essas nuvens de cinzas são muito mais altas que as nuvens “normais” (as de vapor d’água), elas refletem a luz solar por mais tempo, porque, mesmo o Sol estando bem abaixo do nosso horizonte, ainda consegue iluminar as camadas mais altas da atmosfera. 

Isso vem fazendo a escuridão das noites ficarem mais curtas. Em alguns locais, o céu tem permanecido iluminado por mais de 1 hora após o pôr do Sol. E da mesma forma no amanhecer, quando a escuridão é interrompida precocemente pelas nuvens avermelhadas das cinzas do Vulcão Hunga-Tonga.

Comparação entre duas fotos feitas a partir de Monteiro, ambas às 04:41 da manhã. À esquerda, a imagem feita em 6 de fevereiro de 2021 e à direita, em 6 de fevereiro de 2022, mostra o céu iluminado e avermelhado, mesmo 50 minutos antes do nascer do Sol - Créditos: CaririWeb / climaaovivo.com.br

Comparação entre duas fotos feitas a partir de Monteiro, ambas às 04:41 da manhã. À esquerda, a imagem feita em 6 de fevereiro de 2021 e à direita, em 6 de fevereiro de 2022, mostra o céu iluminado e avermelhado, mesmo 50 minutos antes do nascer do Sol – Créditos: CaririWeb / climaaovivo.com.br

Efeitos no clima

Não há motivos para se preocupar com os efeitos dessas cinzas no clima do planeta, porque mal não faz. Embora uma erupção lance na atmosfera uma enorme quantidade de CO2, que é um gás que produz efeito estufa, isso ainda é, incrivelmente, bem menos do que produz a atividade humana. 

E quando essas cinzas atingem a estratosfera, ocorre algo interessante: o enxofre acaba se convertendo em ácido sulfúrico, que se condensa rapidamente formando aerossóis de sulfato. Esses aerossóis têm a capacidade de refletir mais a radiação solar de volta para o espaço, provocando exatamente o efeito inverso do CO2. No fim, a erupção ajuda a combater o efeito estufa. Mas além disso, erupções vulcânicas muitas vezes foram responsáveis pelo resfriamento do planeta. 

Ainda não sabemos se esta erupção vai interferir de forma significativa no clima do planeta, mas bem que poderia nos dar uma mãozinha no combate ao aquecimento global, já que nós humanos, aparentemente não vamos conseguir fazer isso por conta própria. Entretanto, a erupção do Vulcão Hunga-Tonga Hunga-Ha’apai certamente vai ficar conhecida como uma das maiores e mais devastadoras e da história, e cuja intensidade foi percebida do outro lado do mundo em infrassom e imagens de tirar o fôlego. 


Matéria baseada no levantamento de dados feitas pelo meteorologista Diego Rhamon.

 

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