Nascer do Sol de Equinócio em João Pessoa

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Nascer do Sol de Equinócio em João Pessoa

Nascer do Sol de Equinócio em João Pessoa

A primeira vista, a foto acima é apenas mais um belo amanhecer na cidade de João Pessoa. Entretanto, há algo de especial neste nascer do Sol: este é um nascer do Sol de equinócio, mais especificamente do equinócio de primavera, que ocorreu entre os dias 22 e 23 de setembro, marcando a chegada da nova estação.

Apesar de que, a maioria dos que leem esse texto já estudaram isso em geografia quando criança, uma grande parte das pessoas desconhece o que isso significa. Além disso, existe uma série de curiosidades a respeito dos equinócios que poucos conhecem.

Definição de Equinócio

Segundo a definição mais popular, o equinócio é o momento do ano em que o dia tem a mesma duração da noite. O equinócio ocorre duas vezes no ano, na transição do verão para o outono (equinócio de outono) e na transição do inverno para a primavera (equinócio de primavera). Na astronomia, equinócio é definido como o instante em que o Sol, em sua órbita aparente (como vista da Terra), cruza o plano do equador celeste (a linha do equador terrestre projetada na esfera celeste).

Inclinação do eixo de rotação da Terra em relação ao plano de translação

Eixo de rotação e plano de translação

Isso ocorre porque, como todos sabem, o eixo de rotação da Terra é inclinado em relação ao seu plano de translação. Essa inclinação é a responsável pelas estações do ano na Terra. Nos primeiros e últimos meses do ano, o Sol aparece para nós, mais ao sul, e por isso, os dias são mais longos no hemisfério sul e, por receber mais radiação solar, é mais quente nessa época do ano. Nos meses próximos ao meio do ano, o sol aparece mais ao norte. Isso faz com que as noites sejam mais longas aqui no hemisfério sul, diminuindo a incidência do sol e tornando a temperatura mais fria. Os equinócios marcam justamente essa aparente passagem do Sol de um hemisfério para outro.  Note que, como a terra está em translação o tempo todo, essa passagem ocorre em um instante apenas, e não em um período de tempo. Esse ano (2014), o equinócio de primavera ocorreu exatamente às 23:29 (horário de Brasília) do dia 22 de setembro. Então, quando o sol se pôs na tarde do dia 22 ele ainda estava no hemisfério norte, e quando nasceu na manhã do dia 23, já estava no hemisfério sul. Quando nós ouvimos na televisão que “esse ano a primavera vai começar às 23:29 do dia 22 de setembro” é exatamente isso que o jornalista está informando: a data e hora do equinócio de primavera.

Mas daí, surge uma outra dúvida: A data e hora mudam de um ano para o outro? Por que? Isso ocorre devido a um único fator: a duração de um ano terrestre não é um número redondo.

Mudança do Horário dos Equinócios

O que aprendemos na escola é que o ano dura 365 dias e 6 horas. Se fosse exatamente isso, isso significaria que o equinócio de primavera esse ano ocorreria 6 horas mais tarde que a do ano passado. Até que no ano bissexto, com um dia a mais, iria ocorrer 18 horas antes. Dessa forma, a cada quatro anos, o equinócio ocorreria na mesma hora. Mas na verdade, os anos tem uma duração de aproximadamente 365,2422 dias ou 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 48 segundos (mais detalhes aqui).  Isso faz com que os equinócios ocorram sempre em horários diferentes de um ano para o outro. Prestando bastante atenção nessa informação, iremos perceber que a regra do ano bissexto de acrescentar um dia no ano a cada 4 anos não corrige com exatidão o nosso calendário. É que na verdade, a regra do ano bissexto não é tão simples assim. O calendário gregoriano, calendário oficial da maioria dos países, institui que os anos múltiplos de 100 não devem ser bissextos, a não ser que sejam também múltiplos de 400. Por isso, o ano de 1900 não foi bissexto (acredito que a maioria que lê esse texto não se lembra disso) enquanto o ano 2000 foi. Por conta do ano bissexto de 2000, os equinócios estão ocorrendo mais cedo nesse século. Grande parte deles devem ocorrer no dia 22 de setembro invés do dia 23 como em grande parte do século XX. Somente na virada para o próximo século, quando ocorrerão 7 anos não-bissextos seguidos (2097-2103), essa situação deve se regularizar.

Alinhamento com o Equador Celeste

Avenida Epitácio Pessoa, João Pessoa, PB

Avenida Epitácio Pessoa, João Pessoa, PB

Um fato interessante sobre os equinócios é que o pôr do Sol mais próximo ao momento do equinócio é quando o Sol se apresenta mais próximo do oeste. Da mesma forma, o nascer do Sol mais próximo ao equinócio, é o momento do ano em que o Sol se apresenta mais ao leste. Por este motivo, na foto acima o Sol parece estar praticamente alinhado com a Avenida Epitácio Pessoa, a principal da Capital Paraibana. Conforme mostra o mapa ao lado, a Avenida Epitácio Pessoa (em destaque) é quase perfeitamente alinhada com o sentido leste oeste, e por isso, apenas nos dias de equinócio, é possível se registrar o nascer e o pôr do Sol alinhado com a avenida.

Assim como a Avenida Epitácio Pessoa, existem vários monumentos ao redor do mundo construídos de forma a marcar com precisão a ocorrência dos equinócios, como o Monumento Marco Zero do Equador em Macapá. Durante os equinócios, o sol projeta um círculo de luz exatamente sobre a linha do Equador. Em monumentos modernos, essa característica é apenas contemplativa. No entanto, entre os povos antigos, eram muito comuns esses tipos de monumento que tinham funções essenciais para marcação de tempo, previsão das estações do ano, e de eclipses. Pessoas capazes de ler os astros e “prever” a melhor época para plantio ou algum evento astronômico, ganhavam status dentro da sociedade. Eram considerados magos, e acreditava-se que eram capazes de prever outros eventos na Terra a partir da observação dos astros. Assim nasceu a astrologia.

Um bom exemplo de monumentos antigos com essas características é Stonehenge, na Inglaterra. Com mais de 5 mil anos de idade, Stonehenge é uma estrutura formada por círculos concêntricos de pedras que chegam a ter cinco metros de altura e a pesar quase cinquenta toneladas. Esse conjunto de blocos monolíticos estão posicionados de forma que um observador em seu interior possa determinar, com exatidão, a ocorrência de datas significativas como solstícios e equinócios. Além disso, possui blocos perfeitamente alinhados com a órbita lunar, o que acredita-se permitir a previsão da ocorrência de eclipses.

Um outro exemplo interessante é a Pirâmide de Kukulcán, no México. Nela, além de diversos elementos relacionados ao calendário Maia, ocorrem projeções luminosas únicas apenas nos equinócios e solstícios. Ao entardecer dos equinócios da primavera e do outono, observa-se em uma das escadarias da pirâmide de Kukulcán uma projeção solar serpentina, consistente em sete triângulos isósceles de luz invertidos, como resultado da sombra que projetam as nove plataformas desse edifício durante o pôr-do-sol.

Equinócio nos Pólos

Um outro fato a respeito dos equinócios sempre chama a atenção de quem estuda o movimento celeste é como os equinócios se apresentam nos pólos. Pela definição popular, o dia deveria ter a mesma duração da noite durante o equinócio. Mas nos pólos, é diferente. Nessas regiões, o equador celeste está alinhado com o horizonte e, por estarem juntos ao eixo de rotação da Terra, os pólos só veem o Sol acima do horizonte durante os seis meses da primavera e do verão. No momento exato do equinócio de primavera, o Sol deve estar posicionado exatamente no horizonte, ou seja, apenas metade dele acima do horizonte. Nos pólos, o Sol caminha praticamente paralelo ao horizonte, no sentido horário no hemisfério norte e anti-horário no hemisfério sul. A partir do equinócio de primavera ele começa a subir no horizonte caminhando em círculos até atingir a sua altitude máxima no solstício de verão, quando começa a retroceder e baixar no horizonte até o equinócio de outono. Nesse momento, ele voltará a ficar exatamente sobre a linha do horizonte. Ou seja, nos pólos, só existe um pôr do Sol e um nascer do Sol por Ano (não é a toa que Jurandy do Sax resolveu construir sua carreira artística por aqui).

Duração dos dias e noites

Duração dos dias e noites

Mas a medida que nos afastamos do pólo, o equador celeste vai se inclinando em relação ao horizonte, o que vai propiciando a ocorrência de mais dias e noites. A 3° do pólo, por exemplo, o sol começa a nascer uma semana antes do equinócio de primavera. Uma semana depois, ele deixa de se pôr. O gráfico ao lado, mostra a duração dos dias e das noites nas diferentes latitudes do globo. Para entender mais sobre esse tema, veja também esse artigo aqui.

Precessão dos Equinócios

A última curiosidade que gostaríamos de abordar é talvez a mais complexa de se compreender. Vamos tentar explicar esse fenômeno aos poucos: O eixo de rotação da Terra não é estático. Assim como um peão girando rapidamente, o eixo de rotação da Terra gira no sentido contrário ao da sua rotação, fazendo com que esse eixo aponte para pontos distintos do céu com o passar dos anos. Isso mesmo. Significa que nem sempre a Estrela polar será referência para o pólo norte celeste. Mas isso não é motivo de preocupação, ao menos por enquanto, pois este ciclo tem um período de aproximadamente 25.800 anos. Bom, mas o que isso tem a ver com os equinócios? Ocorre que, como a duração do ano é calculado em função dos equinócios (ano trópico) e o equinócio tem relação direta com a inclinação do eixo de rotação da Terra, a mudança da direção desse eixo faz com que a duração do ano segundo nosso calendário seja sempre um pouco menor do que o período de translação da Terra, que chamamos de ano sideral.

Ano sideral

Ano Sideral

Considerando as estrelas como referência, o ano sideral é o tempo que a Terra leva para percorrer toda a sua órbita e voltar exatamente ao mesmo ponto. Porém, devido ao fato do ano trópico não coincidir com o ano sideral, ao final de cada ano trópico, a Terra fica um pouco mais atrasada em relação ao ano sideral. Ou seja, os equinócios ocorrem sempre um pouco mais cedo em relação ao ano sideral. Por isso, esse fenômeno é conhecido como precessão dos equinócios. Na prática, essa diferença faz com que a cada 2 mil anos aproximadamente, a constelação predominante no céu em cada mês do ano seja diferente. Ou seja, se olharmos para o alto às 00:00h do dia 23 de setembro de 2014, veremos a constelação de Peixes. Se participarmos de um programa de criogenia humana, acordarmos daqui 2 mil anos, no dia 23 de setembro de 4014 e olharmos para o alto no mesmo horário, a constelação de Peixes não estará mais lá. Na mesma posição estará a constelação de Aquário. Com esse exemplo, terminamos por explicar a passagem das eras astrológicas. Pelo conceito da astrologia, a constelação do zoodíaco onde o Sol nasce no equinócio de outono define a era. Atualmente, essa constelação é a de Peixes. Em meados de 2600, será a constelação de Aquário. A Era de Aquarius!

Enfim, diversas curiosidades astronômicas envolvem os equinócios. Neste artigo, tratamos apenas das principais e cada uma delas, poderiam ser desenvolvidas em um artigo a parte. Mas o aprofundamento desse e de qualquer conhecimento depende basicamente do interesse do leitor. Se você se interessa por astronomia e por assuntos relacionados, acompanhe a página da APA em e nos siga no Facebook, onde procuramos sempre compartilhar notícias relevantes e curiosidades sobre a astronomia. Bom equinócio para todos!

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